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Um trem atravessa a vida de Ana, no curta "A VIDA EM UMA VIAGEM" da cineasta Tauana Uchôa.

  • por Dênnys Dênnys D'Lima | AD Produções Artísticas
  • 11 de mai. de 2016
  • 4 min de leitura

Começo esse meu Jeito de Contar caro leitor com a seguinte frase do Monologo “Dona Doida”, da obra da mineira Adélia Prado, interpretada pela grandiosa Fernanda Montenegro. A personagem diz em um momento do texto: “-Um trem atravessou a minha vida.” Parece-me que o mesmo trem que atravessou a vida na personagem da Fernanda, é o mesmo que atravessou a vida da Ana, personagem da Cineasta Tauana Uchôa, do curta “A vida em uma viagem” que teve sua estréia no CINE PE 2016.


No curta, o espectador ver a estória de uma Ana no trem. É um fato tão corriqueiro, que nos remetem a lembrar as diversas memórias afetivas de nossas relações sociais nos trens que nos levam e nos trazem a cada estação todos os dias, atravessando assim a vida de tanta gente - um “trocadilho” - através dos momentos em que nos despedimos e conhecemos outras pessoas. O filme faz um resgate as lembranças do passado através da personagem, são lembranças que tanta gente viveu e hoje resta essas memórias tão plural. A memórias é talvez a premissa principal da produção, mas a verdade é que o filme é muito mais que isso.


Foto: A vida em uma viagem / Divulgação

É um curta de 15 minutos, na trama fala de Ana, uma personagem que vivência dentro do trem suas lembranças, e nesse processo o espectador ver as várias fases da personagem Até a fase adulta, seguindo o fluxo linear do tempo. Esse é o primeiro curta da diretora que também assina o roteiro. Não que seja pretensão do roteiro, mas vi nele uma verdadeira aula de democracia, cidadania e liberdade autoral para recriar tantos fatos. Nele contem muita história, que nem a Ana dar conta delas em sua narrativa (Rsrsrs). É um filme que o espectador assisti dentro do filme, por ser tão realista.


Nas primeiras imagens ver-se Ana ainda pequena recebendo de sua mãe um colar, o mesmo colar que ela na fase adulta dar para outra menina em um trem, concluindo assim uma narrativa autoral com várias referências cinematográficas. O filme se passa em várias épocas importantes na história do Brasil; o golpe, a ditadura, as diretas Já e o Impeachment do Ex-presidente Fernando Collor de Melo. Um filme completamente sem diálogos, mas a ausência deles não caracteriza falta de som, pois é tecnicamente substituída pela Trilha sonora no processo de transição do tempo, mostrando a importância da trilha como grande condutora. Além da trilha, tem os figurinos, elementos importante para situar a época, eles são grandes aliados como propulsores da própria narrativa - as transições situa o espectador no tempo presente da história politica do país. Tauna faz um retrato desses momentos poucos visto pela juventude atual, destacando pela sua personagem principal, a Ana. Isso fica evidente na boa sequência, registrando a rotina de inúmeras pessoas.



Quando vi na programação do Cine PE o nome do filme, fiquei curioso pra saber o que seria essa “Vida” em uma viagem. Confesso, fiquei surpreso e completamente desnorteado ao assistir, um curta com um elenco grande, que são bem dirigidos para a propostas, características bem definidas, seus personagens parecem que se encontram naquele trem todos os dias, que se despedem. Como diz um trecho da música interpretada pela Maria Rita; "A vida se repete na estação, tem gente a sorrir e a chorar”. A passagem de tempo e feita com suavidade, cortes precisos, planos suaves e divertidos em alguns instantes e o movimento de câmera usados para que a atmosfera acontecesse. Há nesse curta algumas lembranças do Cinema de Animação, característica da Diretora por sua formação na área.


Ao assistir o filme o espectador “talvez” não se lembre em qual parada ele desceu um dia, muito menos seus companheiros durante a viagem, nem mesmo os que estavam sentados ao seu lado.


A Fotografia é um exemplo de pesquisa, de execução, ela fica clara nos tons que me lembram dos filmes do Almodóvar, que ele costuma usar para construir suas narrativas. Mas a fotografia de “A vida em uma viagem” não seria eficaz se não fosse à colaboração também de uma boa Direção de Arte, e nesse filme da Tauna o casamento é muito bem conduzido, em todos os elementos cênicos, no rádio do garoto, nos vários trens que mudam no decorrer da história mostrando o dia a dia de cada personagem. Um filme complexo pela pesquisa de Direção de arte e preparação de Elenco que precisaria de um tempo maior do que foi para ser produzido, mas o resultado dentre o Roteiro e a Montagem é bom, todos os elementos funcionam (alguns erros minuciosos) dando sensibilidade orgânica, e desconstrói o mito de que fazer “Cinema Independente” é difícil.


“A vida em uma viagem”, não será nas próximas décadas um filme que precise gritar para ser ouvido, pois nele você não ver grandes cenas dramáticas para contar sua história. O foco do roteiro vai muito além do contar a vida pessoal da personagem, é um roteiro que mostra a rotina social dela no trem. Na conversa que tive com a Tauna, ela me falou que o roteiro inicial era a história de Ana dentro do trem, feito apenas uma cena para o curso de Cinema de Animação.


“A vida em uma viagem” é bonito, divertido, poético e cativante, um curta que também guardarei nas minhas memórias, pois essa "Ana" é como se fosse uma "Andréia" minha.


TEASER DO FILME



JEITO DE CONTAR:

Foto: Arquivo da internet

A escolha do trem vem da paixão da Tauna pela a história do Recife, do metro, da ponte Uchôa, com o intuito de resgatar essas lembranças. A história do filme é inspirado na história dos Pais dela que se conheceram dentro de um ônibus e da sua Bisa Vó, que sempre se preocupou com os filhos que vão partir, com o que estar acontecendo na TV, no Jornais, e de comentar com na reunião da família. “Acho que tiro isso dessas mulheres, da minha própria casa, que sempre foram antenadas com o que estar acontecendo, e sempre me inspiraram muito.” Disse.



O AUTOR - Dênnys D'Lima é Ator, Diretor, Cineasta e Jornalista. Dono de suas "Andréias", personagens de suas histórias. Aqui, no Jeito de Contar, ele produz conteúdo sobre Cinema.

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