top of page

A bagunça que é Batman vs. Superman: A Origem da Justiça

  • Por André Costa | http://www.ligadoemserie.com.br/
  • 5 de abr. de 2016
  • 5 min de leitura

Quando a filosofia heroica conflitante de Batman e Superman chega ao limite e Os Vingadores atinge mais de um bilhão e meio de dólares em bilheteria, a DC/Warner decide que é hora de jogar suas duas principais marcas uma contra a outra e, da fissão resultante, partir para um filme da Liga da Justiça.

Sabe quando sua mãe te obriga a ligar para aquele primo com quem você não fala há anos para dar os parabéns por alguma coisa? Batman vs. Superman: A Origem da Justiça segue pelo mesmo caminho: não é o filme que a DC/Warner queria fazer, não é o filme que precisavam fazer, mas é o filme que se sentiram obrigadas a fazer. Com o universo fílmico da Marvel já na linha das 80 jardas, a turma do Superman decidiu apertar o passo para tentar competir e o resultado é uma produção apressada num engavetamento de sequências que não consegue ser efetivamente uma história contada de forma satisfatória – algo recorrente na filmografia de Zack Snyder, o fanfarrão.

Afinal, essa produção precisava, ao mesmo tempo: reapresentar o Batman (já que no Batman do Nolan não havia espaço para Supermans e Mulheres Maravilhas), retomar os eventos de Homem de Aço, criar um motivo para o homem-morcego ir atrás do Super-Homem, criar um motivo para este querer transformar a cara do Batman em diamante, narrar toda a trama de Lex Luthor, inserir a Lois Lane para justificar o contrato da Amy Adams, apresentar a Liga da Justiça, e, mais importante, pancadaria. Não há espaço para arcos dramáticos ou desenvolvimento de temas interessantes, mesmo com as inchadas 2h40 de duração.

É muita informação e o pouco espaço que sobra é desperdiçado por alucinações/sonhos vívidos/devaneios/flashbacks que só vão fazer sentido em outros filmes (como a do deserto), diálogos constrangedores (“você voou perto demais do sol“, “ding ding ding ding“) e conflitos vazios como um pastel de rodoviária (os questionamentos de Batman e Superman sobre seus próprios caminhos duram menos do que um tweet, e temas bacanas como a influência do Superman na política externa são abandonados assim que cumprem sua função básica). Tudo é muito rápido. Tem muita coisa acontecendo e as tramas não se conectam de forma orgânica, não há uma linha narrativa que dê para seguir com a confiança de saber o que está rolando. Na ânsia de querer condensar tudo em um só lugar,Batman vs. Superman é atropelado pela sua própria história.


Não ajuda também que o objetivo de Snyder seja atingir a megalomania total e definitiva, já que todas as cenas querem se mostrar incrivelmente importantes, grandiosas, épicas, olímpicas, como se o filme fosse todo composto de momentos pensados para o trailer – sempre há um plongée, um olhar para o horizonte, alguma frase de biscoito da sorte pipocando para garantir que tudo é significativo e nada é apenas uma cena entre outras duas. E digo algo importante: Snyder não sabe contar uma história, ainda mais a partir desse texto fraco de Chris Terio e David S. Goyer. Ponto. Não sabe que o espectador precisa se identificar com alguém na telona.


A trama é exposta de forma trôpega (só ver que a função de Lois no filme é puramente operacional: ser o veículo para o Super expor pensamentos e sentimentos e atrair a atenção dele em momentos importantes, para depois ser abandonada onde estiver), frequentemente ignorando detalhes (como o Homem de Aço sabia que o plano do Batman era pegar aquele objeto?) e partindo para soluções mixurucas (chega ao ponto de Alfred já ter “escutado uma conversa” e realizado todo o trabalho detetivesco só para economizar tempo) ou dando um tapão na mesa e dizendo “todo mundo cala a boca agora que eu quero falar da Liga da Justiça”. Como se não bastasse, o humor completamente deslocado parece ter surgido apenas porque “é blockbuster e blockbuster tem que ter humor, bota uma piadinha ali em qualquer lugar porque rende”.

A película, claro, é bem produzida, embora alguns bonecos digitais estejam beirando os 16 bits. Mas o visual do Batman é provavelmente o mais legal de todos os filmes da personagem, e há de se elogiar uma equipe que coloca um sujeito vestindo um collant azul no meio de pessoas normais sem que isso soe ridículo. Além disso, Batman vs. Superman consegue criar um pouco de tensão na luta entre os dois protagonistas, o que já é um feito considerando que um deles poderia acabar com o outro com a mesma quantidade de esforço que Chris Terio e David S. Goyer usaram na construção do roteiro (e um momento em particular é bem intenso, usando a pista-recompensa de forma eficiente para determinar como as coisas acontecem).



Entretanto, Snyder começa a babar e a tremer e se se injeta sequências em câmera lenta para alimentar o vício, mas sem ser capaz de construir uma coreografia de batalha empolgante e que não pareça um amontoado de pixels, brilhos e estrondos envoltos em uma nuvem de poeira e detritos. Todo o terceiro ato é basicamente uma interminável fase de videogame, na real. É quase impossível distinguir uma cena da outra, a não ser pela aparição da Mulher Maravilha, que certamente surge apenas como teaser para o seu próprio filme.


Contrariando todas as expectativas, Ben Affleck cumpre bem as funções morceguísticas, ilustrando com eficiência a raiva e a frustração que dominam o homem-morcego, embora sua contribuição ao filme pudesse ter sido muito maior se tivesse dado um golpe de Estado e assumido a direção. Henry Cavill, por outro lado, mantém o Superman sempre na ionosfera e não consegue aproximar o homem de aço de qualquer tipo de identificação que não seja com um bloco de concreto (tenho muito medo desse Superman dele. Não há nenhum componente remotamente humano na personagem, o que deveria ser sua principal característica).


O resto bate o ponto ali e vai embora, com um pouco de destaque para o magnestimo de Jesse Eisenberg (que exagera de vez em quando, mas, no geral, transforma Luthor no Mark Zuckerberg da DC) e o o momento onde ele mostra fotos como se fossem cartas de baralho – o ás na manga – é brilhante. Já Jeremy Irons tem carisma, mas não sobre quase nenhum espaço para desenvolver seu jovial Alfred. Sem praticamente nenhuma tarefa no roteiro a não ser parecer dissimulada, Gal Gadot não pode fazer nada além de mostrar que interage bem com os colegas e não ficará deslocada na Liga da Justiça.

Prejudicado pela trilha que marreta incessantemente o que parece ser um castigo divino, Batman vs. Superman ainda é alvo do sofrível 3D convertido – que, além de não acrescentar nada (Snyder usa uma profundidade de campo assaz curta), piora a situação porque os óculos da tal terceira dimensão só atrapalham um filme que já é por demais escuro. Com exceção de auto-flagelo, não há nenhum motivo para assistir à película em 3D (embora seja difícil achar uma cópia em 2D nos cinemas).


No final das contas, um dos principais problemas é que a produção se mostra refém do filme da Liga da Justiça. Por isso, além de quebrar o ritmo para atirar na tela pistas que fazem o coração dos fãs bater mais rápido, acaba investindo na construção de mitos que podem ser vendidos emtrailers grandiosos, deixando de lado os elementos que envolvem as pessoas nas histórias. Os conflitos dramáticos superficiais não são dignos de uma produção que, ao menos marketingamente, tenta colocar um oponente como sendo luz e o outro como sendo trevas. No que diz respeito ao embate moral e filosófico entre duas escolas diferentes de pensamento, fica devendo. No que diz respeito a um filme envolvente e intenso, também fica devendo. É uma bagunça fora de controle que precisava muito de uma mão mais firme em sua condução, especialmente por estar lidando com personagens tão grandiosos e queridos por tanta gente. Os fãs mereciam mais.


Foto:


Tags: amy adams, batman vs. supeman: dawn of justice, batman vs. superman, ben affleck, dc, evidencia, Gal Gadot, henry cavill, jack irons, jesse eisenberg, painel, quadrinhos, warner, zack snyder

André Costa - É cinéfilo, publicitário, zagueiro, leitor ávido e autor convidado do Ligado em Série. http://www.melhorquenada.com

Comentarios


© 2023 por Fazendo Barulho. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page