Leandra Leal: um amontoado de sensações em “'O Lobo Atrás da Porta”.
- Por Dênnys D`Lima
- 3 de ago. de 2015
- 3 min de leitura
Um thriller que consegue trabalhar elementos narrativos com rara competência. “O Lobo atrás da porta/2013” do eficaz Fernando Coimbra, um diferencial da escola do curta-metragem. Esse é um filme que trabalha muito bem o suspense num filme brasileiro, parece filme americano. Mas é nosso. Com roteiro e direção do Coimbra - que é perfeito na direção de seus atores. A história é baseada no caso de uma menina desaparecida que abalou a cidade do Rio de Janeiro nos anos 60. Na trama - que acontece na Zona norte do Rio de Janeiro -, após o desaparecimento da garota, ícone essencial para a construção do suspense que prende o espectador na frente da telona, os pais da menina, Sylvia (Fabíula Nascimento) e Bernardo (Milhem Cortaz), e Rosa (Leandra Leal), amante de Bernardo, são intimados pela policia para contar como o fato aconteceu. Só que cada um conta sua versão do desaparecimento, causando assim, uma ciranda de suspense.

São versões contraditórias, causando ao espectador inúmeras sensações. São expostos detalhes, segredos e versões que durante a trama montam o quebra-cabeça na mesa do delegado, versões estas, que envolve “traição, sexo, violência, na qual, definitivamente as aparências enganam”. Cada depoimento estrutura uma narrativa nos deixando com os olhos vidrados na tela - quase sem piscar -, procurando identificar nos personagens ali proposto pelo roteirista, quais de suas verdades podem nos converse. Ao assistir o longa do Fernando Coimbra, nos deparamos com uns desses grandes filmes policiais, cheios de pistas falsas, vinganças e segredos. O delegado ao adotar vários pontos de vista instala uma desconfiança em relação aos personagens. Tensão e angústia são essa a atmosfera que só aumenta a cada contradição dos elementos narrativos. Um filme singular, a câmera não desgruda do ator, muitos planos intimistas contribuindo assim com o mistério instalado a partir dos depoimentos. Um filme com uma ambientação perfeita, propondo assim o realismo eficaz aos personagens. O que tenta desvendar ao assistir o filme é que o espectador não sabe quem de fato é o vilão desta história, onde estão à vítima, entre os três personagens principais, cheios de “ambiguidades” – onde todos se mostram ser vitimas a partir da construção psicológica.
“Cinema é trabalho de grupo”. O diretor e roteirista fez a parte dele com méritos. O Coimbra é eficaz ao dirigir seus atores, todos os gestos são convincentes na frente da câmera, repito, que não desgruda dos atores. Uma direção repleta de desejos e fome de falar as verdades. Têm muito disto no Coimbra, é visível no tom dramático de seus interpretes, um passo importantíssimo para se chegar ao resultado proposto. Um filme dinâmico, resultado de um roteiro muito bem acabado. Como no quebra cabeça; tudo se encaixa, mérito ao processo do maestro: o diretor, que consegue desenvolver uma estrutura dramática impecável de seus conflitos como diretor regular.
Mais uma vez, a Leandra Leal, me surpreende desde a oportunidade que tive ao assistir Nome Próprio, uns de seus trabalhos fantásticos como interprete. Ao assistir “O lobo atrás da porta” percebo o quanto a Leandra se transforma como interprete o quanto a câmera cinematográfica gosta dessa estupenda atriz e não é de agora, o quanto são íntimas e, ela sabe perfeitamente o que fazer diante dela para que esse gosto não se acabe, é de impressionar essa compreensão. Rosa, personagem da Leandra é um estereótipo de tudo que virmos e acabamos aceitando na sociedade. A montagem é um verdadeiro quebra cabeça, pois ela te conduz por vários estágios naturalistas dos personagens. São de fato personagens inquietantes ao espectador. O filme apresenta o trágico como dado da condição humana, não esperem uma lição de moral como reflexo de nossas existências. E no final o mistério do filme: Onde está a garota? Está no drama que antecede o intenso clímax. É prazeroso ver o quanto o cinema nacional está conseguindo se sair bem em novos territórios. Quem não assistiu, assita; “O Lobo atrás da porta” parece dos mais interessantes!
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