André é o tal “garoto” que copiava.
- Por Dênnys D`Lima
- 22 de jul. de 2015
- 3 min de leitura
“André (Lázaro Ramos) é um jovem de 20 anos que trabalha na fotocopiadora da papelaria Gomide, localizada em Porto Alegre. André mora com a mãe e tem uma vida comum, basicamente vivendo de casa para o trabalho e realizando sempre as mesmas atividades. Num dia André se apaixona por Sílvia (Leandra Leal), que é quase tão pobre quanto ele. Sílvia é uma vizinha, a qual o André passa a observar com os binóculos em seu quarto. Decidido a conhecê-la melhor, descobre que ela trabalha em uma loja de roupas e, para conseguir uma aproximação, tenta de todas as formas conseguir 38 reais para comprar um suposto presente para sua mãe”.

André é o personagem do longa-metragem “O homem que copiava” do cineasta Jorge Furtado para representar uma realidade de um jovem de classe média baixa da atualidade-talvez. O filme reflete situações corriqueiras da nossa sociedade. Coincidência? Talvez sim. Talvez não. Esse também é uns dos papeis do cinema; Ilustrar a realidade de uma sociedade apressada com os ponteiros do relógio é um ponto crucial do filme. Questionar a falta de dinheiro como tema, já nos coloca e já mostra o lugar e a limitação que o dinheiro em si já coloca ao André, personagem do longa, que vive a falta de perspectiva diante da ditadura do consumismo e o repensar as questões éticas. O Filme do Furtado lida com temas tão presentes na sociedade: abuso sexual, assalto, assassinatos, mas ele sabe dosar, tem um jeito de contar sabe de uma sutileza, sabe? Se pensou que o cinema tem o papel de dar lição de moral; Esqueça. Pois ele torna-se uma péssima influencia. O tosco é que ele fala desses temas sem violência nenhuma, sem nenhuma apelação de sexo. Tudo com humor. Os personagens da Luana Piovane e o Pedro Cardoso, por exemplo, são maravilhosos na construção da narrativa.
A falta de dinheiro, o negro como protagonista e suas nuances que caracterizam os subúrbios esquecidos pelo estado, é bem ilustrado sem muito apelar. Um casamento entre direção de arte e fotografia dignas ao “viveram felizes para sempre”. Furtado reescreveu uma nova perspectiva quando decidiu colocar um negro como personagem central de seu roteiro e, quando você está assistindo, logo ignora que é um negro como protagonista. Uma expertise de mestre, pois em nenhum momento há no filme uma menção sequer quanto à cor do personagem André que trabalha numa foto-copiadora - “Xerox”. O crédito do filme está na construção do roteiro. O que se percebe é uma junção com o próprio nome do filme: “O homem que copiava”, uma boa sacada à narrativa do Furtado. No inicio do filme, já observamos a dificuldade econômica do personagem ao tentar escolher entre a carne e o fósforo e o dinheiro que carrega no bolso; dinheiro para pagar as “comprinhas”. Claramente no caixa do supermercado, ver-se o tom facial de constrangimento do personagem que sabe o limite do dinheiro e, o quanto tem que escolher diante das conseqüências de sua vida. Quando é dado um corte seco, ver-se em outro plano um contraponto: como alguém que tanto precisa de dinheiro, o queima. É louco? Pode internar. André diz e imagina as coisas que compraria com o dinheiro.
O que falar do Elenco? Queria está lá em 2003 pra saber como foi gravar com estrelas globais, um filme simples, mas de uma eficácia estupenda. Eu sempre volto pra assistir, sempre me pego imaginando o André, um narrador pós-moderno, desses que narra os fatos que observa no seu cotidiano, que poucos conseguem enxergar. Mas o André não apenas narra os fatos, ele participa dos fatos que narra. Então por este ponto de vista, o André é um narrado clássico, pois participa de suas narrativas. O filme dar uma idéia que não basta observar, tem que ser agente de seus desejos e prazeres. O André é um desses agentes transformadores, pois conseguiu transforma sua vida para sempre, mesmo que copiando dinheiro. Mas cá entre nós, é tentador pra quem está precisando de 38 reais, trabalhando em uma fotocopiadora colorida. Um humor inteligente, divertido e uma história muito bem pensada. Só de saber que o cara adquiriu uma vasta cultura – no caso inútil - enquanto tirava Xerox é aplausível. Quantos Andrés de “O homem que copiava” não existem por ai?
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