Na hora de escrever literatura, o que vale é a estética e não a ética
- Jeito de Contar
- 16 de nov. de 2014
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Raimundo Carrero acompanhou palestra sobre a sua obra literária e opinou sobre as relações humanas dos seus personagens
A dimensão entre loucura, família e religião tem presença forte nas obras de Raimundo Carrero. Pensar nos personagens, como agentes em busca do preenchimento do vazio humano, foi o mote principal da discussão entre os pesquisadores Eliene Medeiros, Priscila Varjal e Rafael Monteiro. A mesa de debates aconteceu no Congresso Literário, neste sábado (15), com mediação do jornalista Marcelo Pereira.
Eliene Medeiros abordou a relação das obras de Carrero com passagens bíblicas. “Essa presença é muito forte, quando observamos, por exemplo, a obra ‘Sombra Severa’, que também conta a história do conflito entre irmãos, assim com em ‘Abel e Cain’”. A presença da religião também se encontra metaforizada nos livros “As sementes do sol” e “Viagem no ventre da baleia”.
Segundo Priscila Varjal, a obra de Raimundo Carrero também revela como seus personagens buscam preencher o vazio da erosão da fé cristã, que se dissolve a partir da decadência familiar. “Na década de 90, o autor traz em sua produção o tédio das pessoas com a situação estática das reações no mundo. Não existe mais o choque com a violência ou a morte”, explica a pesquisadora.
Rafael Monteiro adicionou às discussões a abordagem do escritor sobre a loucura. Segundo Monteiro, a loucura passa a ser tratada com racionalidade, os limites com a razão são muito tênues. “Em “Tangalomando”, Carrero mostra relações incestuosas, estupros, assassinatos e o praticante dos atos não sente remorso, pois esse sentimento já não existe. Ele não sabe mais o que é o real, ou racional”, aponta.

Raimundo Carrero estava na plateia e acompanhou, atento, as observações sobre a sua obra. Bastante categórico, ele elogiou as pesquisas dos acadêmicos, e reafirmou a sua postura em relação do processo criativo. “A obra de arte literária não vale pela ética, mas sim pela estética. Eu não sou filósofo, sou um romancista, que pensa no conteúdo artístico. Eu escrevo sobre os pensamentos que ninguém tem coragem de contar para outras pessoas, sobre o que existe no interior da humanidade, e esse é o ponto mais complexo na hora de escrever”, finalizou Carrero.
Texto: Site da Fliporto
Fotos: Leandro Lima
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